SOBRE O FRACASSO DAS NAÇÕES

ACTO I

Não é por falta de estudos, conhecimentos ou ideias que os grandes projectos se transformam em deserto. É por falta ou deficiência de com’unicação. O destaque da aglutinação que julgo estar na base desta palavra é propositado. Também o tenho feito quanto à ideia-força de com’unidade. Em qualquer dos casos, fica evidente que estas realidades apenas podem existir quando as duas partes do processo são tidas em na devida conta. Quando apenas se faz o que uma parte entende ser melhor para as duas, jamais será comunicação, jamais se conseguirá ser algum tipo de comunidade, muito menos politicamente organizada e sistematicamente motivada para a progressiva e continuada realização de um sonho partilhado, herdado dos que viram, vieram e venceram antes de nós, sob o compromisso de aumentar pilares e paredes ao edifício, dando pistas claras e sólidas de como a obra deverá ser completada pelos que vierem a seguir.

ACTO II

Sobre a obra em causa:
Um elemento central da teoria apresentada no livro “POR QUE AS NAÇÕES FRACASSAM” é a ligação entre instituições económicas e políticas inclusivas e a prosperidade dos povos e das nações que conseguem ter um nível aceitável de controlo efectivo do poder e desenvolver instituições dessa natureza. Instituições económicas inclusivas, que asseguram os direitos de prioridade, criam condições igualitárias para todos e incentivam os investimentos em novas competências; têm maiores chances de conduzir ao crescimento económico. Em sentido diverso, instituições económicas e políticas extractivistas são estruturadas de modo a que uns poucos possam extrair recursos de muitos. Estas mostram-se incapazes de proteger os direitos de propriedade ou fornecer incentivos para a actividade económica. – Obra citada, página 332.
Tantos as instituições políticas quanto as instituições económicas estabelecidas pelas administrações coloniais tinham natureza extractivista. Na maior parte dos casos, na sequência das independências essas instituições não foram alteradas. Apenas passaram da administração colonial para os antigos movimentos de libertação. Assim sendo, a reforma das instruções para que tenham uma feição mais inclusiva é provavelmente o maior desafio das nações que ainda se debatem com grande atraso no desenvolvimento da sua economia no alcance de um nível de desenvolvimento multidimensional que permita aos seus cidadãos um nível condigno, seguro e sustentável de acesso à saúde, educação, serviços públicos, bem como oportunidades económicas e sociais.

ACTO III

Finalmente:

Para quem quiser a versão digital do livro, queira encontrá-lo na ligação cibernética: http://lelivros.love/…/baixar-livro-por-que-as-nacoes…/

UBUNTU

 

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NÃO DEVEMOS TER MEDO DA BONDADE

Queria pedir, por favor, a quantos ocupam cargos de responsabilidade em âmbito económico, político ou social, a todos os homens e mulheres de boa vontade: sejamos “guardiões” da criação, do desígnio de Deus inscrito na natureza, guardiões do outro, do ambiente; não deixemos que sinais de destruição e morte acompanhem o caminho deste nosso mundo! Mas, para “guardar”, devemos também cuidar de nós mesmos. Lembremo-nos de que o ódio, a inveja, o orgulho… sujam a vida; então guardar quer dizer vigiar sobre os nossos sentimentos, o nosso coração, porque é dele que saem as boas intenções e as más: as que edificam e as que destroem. NÃO DEVEMOS TER MEDO DA BONDADE, OU MESMO DA TERNURA. (…) NÃO ESQUEÇAMOS JAMAIS QUE O VERDADEIRO PODER É O SERVIÇO (…) APENAS AQUELES QUE SERVEM COM AMOR SABEM PROTEGER (…) Perante tantos pedaços de céu cinzento,FB_IMG_1495707924532 

HÁ NECESSIDADE DE VER A LUZ DA ESPERANÇA E DE DARMOS A NÓS MESMOS ESPERANÇA. Proteger a criação, cada homem e cada mulher, com um olhar de ternura e amor, é abrir o horizonte da esperança, é abrir um rasgo de luz no meio de tantas nuvens, é levar o calor da esperança! (…) GUARDEMOS COM AMOR AQUILO QUE DEUS NOS DEU! – Papa Francisco. “Rezemos Uns pelos Outros”. Extractos retirados das páginas 31 a 33.

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Celebração da vida a custo zero

Dia 6 de Julho de 2013. Foi um Sábado diferente. Tenho tentado cultivar o hábito de não usar carro próprio ao fim de semana, usufruindo da liberdade de andar a pé ou usar o metro de superfície da super companhia Kandongueiro & Co. Tinha um encontro de trabalho para o meio da manhã que entretanto acabou sendo posposto para o início da tarde. Dei por mim no casco urbano, sem rumo nem destino. Parece que era mesmo isso que a alma estava a precisar, depois de uma noite mal dormida por conta da música da festa do vizinho – que de tão alta e potente chegava a activar o alarme do carro, como se já não bastasse a maldição de ter de estar fadado a competir com Arquimedes, na busca e manutenção de equilíbrio entre os encargos pessoais e a sempre alvo-negra-derrapante liquidez. A verdade é que fez muito bem andar sem destino fazendo gosto ao pé. No processo, fiquei pouco mais de uma hora na Praça da Independência. Poderia estar a admirar MANGUXI mas o banco que estava livre ficava do lado de trás do Guia Imortal e essa não era propriamente a mais poética ou patriótica dimensão do pai de RENÚNCIA IMPOSSÍVEL. Assim fiquei curtindo o atrito do vácuo gerado no meu interior, desligado de todas as malambas, fazendo amor com as diferentes partes que fazem o todo do meu ser pessoal, deixando o interpessoal hibernar. Foi muito bom e gratificante celebrar o prazer das coisas simples. Ter um tempo para fazer com que o cerne e o âmago se abracem em silêncio. De súbito fui interrompido pelo repórter que habita em mim. Ele chamou a atenção para a senhora que rastejava em direcção aos carros sempre que o sinal fechava. De onde estava dava para perceber que as pernas.cuidadosamente cobertas pela saia longa e por um pano aparentam estar aptas para caminhar. Pelo menos, não fui capaz de ver qualquer sinal de atrofiamento muscular gerado pela inacção a que elas estariam votadas caso a senhora fosse mesmo paralítica. Alguns dos automobilistas foram deixando cair notas de baixo valor facial e lá se arrastava a senhora para recolher. A dado momento apareceu um rapaz vendendo picolé. A senhora pediu que parasse e aguardasse alguns minutos até que mais algumas ofertas a permitissem pagar três daqueles gelado, ricos em proteínas por conta do leite e do açúcar. O jovem acedeu ao pedido. Minutos depois estava completo o dinheiro. Pagou e recebeu os três picolés. Deu um à filha que aparentava ter pouco mais de dois anos e outro à filha adolescente que cuida da bebé enquanto a mãe fazia o seu trabalho de atriz – sempre interpretando a personagem da deficiente desamparada que clama por compaixão. Desliguei a ficha do teimoso repórter. Aí fui interrompido pelo filho. Por sugestão dele liguei à minha mãe apenas para dar um beijos dizer que – pelo menos naquele momento – estava óptimo. Já que tinha o telefone engatilhado, liguei para duas pessoas amigas com as quais não falava há algum tempo. Nos dois casos fui atendido pelos filhos, já com voz grossa. Depois de me identificar os miúdos mudaram ligeiramente a voz. “Ah… Tio”. Deixei o lugar e ainda pude passar pelo parque adjacente ao largo, onde cantores que desconheço vendiam os seus discos. Já de saída, vejo uma coletânea de música angolana da década de 60 e 70 designada “Angola-saudade” ( se não estiver em erro). Pego um dos discos para conferir as canções. Muito boas, de facto. Confiro os cantores e rapidamente vejo um padrão. Concluo que a colectânea deveria assumir-se como música urbana de Luanda, Luanda saudades ou algo nesse sentido. Assim a epígrafe estaria de acordo com o corpo da obra. Nem já TETA LANDO consegui divisar na obra, muito menos CININA ou outras vozes dessa diversa Angola, demasiadas vezes confundida e reduzida à sua capital, povos, gentes e manifestações culturais da ngimbi. Não comprei o disco porque concluí que já tinha aquelas músicas e mais outras. Ou Seja, a minha colectânea é mais completa e equilibrada. Prometi ouvir logo que possível a obra com que TETA LANDO ganhou importantes prémios em 1974, que me foi ofertadas pelo companheiro HONORATO, grande apreciador de música boa e boa música. Iria começar a ouvir o disco de TETA LANDO pelo tema “Yevelela o kanjila”. Muito bonito. Os outros também são excelentes, um dos quais é hoje herança comum da nação, como a obra amiúde interpretada por outros honrosos filhos dessa mátria sob o título “o assobio meu”. Lá saí e me fui. Outras coisas ocorreram, como é evidente. Mas vamos deixar por aqui este diário de bordo, com o retomar das palavras iniciais. SÁBADO DIFERENTE. Celebração da vida a custo zero.

Ao Dispor,

@ MAKATUKA

Nota: texto originalmente publicado no nosso Onjango Cibernético, em sede do Facebook FB_IMG_1495707924532.jpghttps://m.facebook.com/story.php?story_fbid=10151678733270768&id=681825767

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Monólogo sobre o conhecimento, a Erística e Górgia

O CONHECIMENTO APENAS SERVE PARA Duas coisas: Ser aplicado ou partilhado. Gosto muito desta preposição de EMERSON e genética ou instintivamente tem sido este o meu posicionamento TUNDE NUNDE*, com alguma alquimia pelo meio e experiências tendo a própria pessoa como objecto de estudo. Tem sido gratificante este caminho e espero que Deus me conceda a graça de um dia viver exclusivamente da reflexão, investigação e partilha, seja por via da escrita seja com prazenteiro recurso à ancestral oralidade. Mas tal graça jamais será o suficiente basta se não for potenciada com as ferramentas certas, muito menos se delas não fizermos uso adequado. A DIALÉCTICA É PEÇA FUNDAMENTAL PARA UMA EMPREITADA DESSA NATUREZA, e claro que a mesma é de todo impossível sem recurso à palavra na sua acepção retórica. Tendo em conta esses aspectos e alguns dos episódios recentes na nossa comunidade, sinto-me compelido a recomendar viva e vigorosamente que os amigos e companheiros degustem e enriqueçam a alma com pelo menos duas obras, disponíveis na internet: a) DIALÉCTICA ERÍSTICA, de A. SCHOPENHAUER e b) GÓRGIA, de PLATÃO. Aquela obra é uma análise dos principais esquemas argumentativos enganosos que os maus filósofos utilizam, com razoável sucesso, para persuadir o público de que 2 + 2 =5. Segundo o incisivo pensador alemão, uma destruição preliminar desses truques e artimanhas é condição indispensável a um sistema filosófico consistente. Sobre GÓRGIA já em outras ocasiões comentamos nesta tribuna cívica, mas vale voltar a conferir o que as “Edições 70” referem na contra-capa. “NESTA OBRA A PALAVRA ESTÁ SENTADA NO BANCO DOS RÉUS: SERÁ A RETÓRICA (OU A POLÍTICA…) APENAS UMA FORMA ADULAÇÃO AO SERVIÇO DO PODER, SEM LIGAÇAO NECESSÁRIA COM A MORAL E A JUSTIÇA? Pode, pelo contrário a palavra ser o cimento da construção dum ideal de realização humana? QUER DISCUTIR ISSO COM PLATÃO?”. OKULIMÕLA KAPWI**

(*) (Em umbundu significa desde tempos imemoriais, desse sempre…

(**) Em português, por aproximação, significa “estamos juntos, sempre”

By: Nguvulu Makatuka, in Onjango Cibernético, 08 de Julho de 2015

Cfr a): http://www.academia.edu/3678115/Como_vencer_um_debate_-_Dialetica_Eristica_PDF

Cfr b):            http://bocc.ubi.pt/~fidalgo/retorica/platao-gorgias.pdf

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O guerrilheiro e o filho da utopia

ACTO I – CARTA AO GUERRILHEIRO
Cda NICOLAU KASSOMA “HANDA YILU”, peço que aceite os meus melhores cumprimentos. Preferia chamar-te pai, mas não ficaria bem com a abreviatura de camarada. Além disso, nos últimos tempos sinto vergonha de te chamar pai, do mesmo modo que acontecia com os angolanos sofredores dos poema “Minha mãe, todas as mães negras…” de autoria do Guia Imortal da Nação Angolana. Sim, pai. Sinto vergonha porque não sou digno de me considerar teu filho se não conseguir razoavelmente realizar os propósitos pelos quais te sacrificaste. Sei que não tens conta no Facebook, blog no WordPress, ou outras formas de interacção pós-contemporânea, mas deixo-te essa mensagem à mesma. De resto, Deus também não está nas redes sociais e agora parece moda orar de modo exposto nestes sítios para vender aos outros a ilusão de que somos pessoas de fé, em vez de nos preocuparmos em produzir frutos dignos de quem reclame para si o título de filho do Deus do amor e do perdão; porquanto irmão do Cristo sacrificado em nome de uma nova chance de ligação com o plano elevado da existência humana. Mas voltemos à nossa conversa, Cda PAI. Faz algum tempo que nem ao telefone falamos. Nem imaginas o quanto me dói. Mas não sei mais o que dizer nem como encarar o teu desencanto pelo prémio que recebeste pela luta de libertação nacional e trabalho dedicado à pátria desde 1962. Ainda tenho o teu processo para acesso às pensões de antigo guerrilheiro do Movimento, mas todos os contactos feitos em nada deram. Se a ti a pátria trata desse modo, tenho muitas dúvidas quanto ao tratamento reservado à geração resultante das vossas lutas, e muito medo sobre o que restará para as gerações futuras. Ainda me lembro do orgulho com que ostentavas as tuas medalhas e a entrega com que sempre te dedicaste aos assuntos da tua formação política. Eu não tenho medalhas e perfilho um posicionamento cívico menos condicionado a opções políticas. Não obstante as nossas diferenças, és provavelmente a pessoa que mais amo na vida. Meu amigo. Para ajudar a realizar as causas e os valores com que me educaste, fiz do Direito a principal ferramenta do meu modo de viver. Mas de repente, parece que o direito já não vale. Pai, eu achava que não havia pena de morte em Angola. Nem formal, nem informal. Directa ou indirectamente. Mas os tempos e os actos parecem cada vez mais estranhos. Eu acredito que a vida de uma pessoa vale muito mais que a frieza de uma opção processual, que nem sequer substantiva. Ficamos como assim pai? Assim mesmo está bom? Eu sinto que não. Não posso concordar com a promoção da morte de alguém, nem que este alguém seja incómodo e muito teimoso. Sempre que esteja ao nosso alcance evitar a morte de alguém, é nobre e um dever fundamental de humanidade que o façamos. O pai quando estudava Direito queria integrar tribunais de defesa de direitos humanos. Isso fazia abarrotar a minha alma de orgulho. O que dizer então do juiz que tinha ao seu alcance a possibilidade técnica e legal de evitar que alguém fosse ao encontro da morte e friamente não o fez? Em nome de que(m) assim procede? Nem já se dá ao trabalho de justificar? A lei é o critério de decisão no âmbito do Estado, mas não é ela mesma a decisão. Deve ser temperada com a ética e a humanização da decisão perante os factos do caso concreto, e da pessoa viva e individualmente considerada sobre cujos direitos se decide. Sem isso, as instituições de justiça estariam a demitir-se do seu papel. E amanhã é sempre tarde demais. Enfim, pai. Apenas queria te dizer que ainda não somos o “homem novo crescido na Pátria de Neto” do hino da OPA. Não faço a menor ideia do itinerário para onde poderá dar este caminho de formalismo e insensibilidade solene, mas estou certo de que não foi isso que combinamos ou que aprendemos sobre o papel do Estado, da justiça e do direito. Que cada um faça a sua parte, mas que seja em tempo útil. Só será justificada a vossa luta se é na medida em que conseguirmos que ANGOLA seja incondicionalmente PRO VITAE e PRO DIGNIDADE.

ACTO II – CONDIMENTOS À ESPERANÇA
Na sequência da carta e como resultado das indiferentes contribuições ao exercício gerado pelo acto supra, foi estabelecido um contacto com o Guerrilheiro que havia sido reportado sobre a forma de contrário. Passado um ano desde a publicação original, somos a integra-lo na peça princípal como sendo o Acto II desse drama da nossa angolanidade. Destarte, COMPANHEIR@S.
Acabo de conversar longamente com o Cda NICOLAU, a quem relatei em linhas gerais o conteúdo da carta. Ficou o compromisso de alguém que viva no Lubango faze-lo Chegar a carta, depois de impressa, uma vez que ele não tem Facebook. É excelente haver essa possibilidade de retorno expresso da mensagem, que em relação a Deus e aos que se julgam deuses dificilmente seria materializada. Basicamente a resposta do nosso Camarada foi de que “O OPTIMISMO É A UNICA COISA QUE NOS PODE SAFAR”. Não referi na carta, mas ele esteve preso pela PIDE nas instalações onde hoje funciona o hospital prisão e a conversa passou por aí. Segundo o nosso Cda PAI, “aprendemos na vida e em períodos como a cadeia que ser optimista e manter a cabeça erguida são atitudes imprescindíveis para que possamos seguir em frente”. Essa palavras foram terapêuticas para mim. Tinha saudades do óptimos crónico (e não necessariamente com justa causa) que sempre marcou a postura dele. É que há alguns meses ele foi coberto por um tom cinzento que me fez sagrar a alma. De volta à luz, HANDA YILU sublinha que as dificuldades devem ser aproveitadas para que nos esforcemos mais, melhoremos as nossas capacidades e assim tenhamos mais argumentos e ferramentas perante os desafios futuros. Perante a nota de que uns se esforçam e nada conseguem quando outros aparentemente navegam numa frequência especial e supersónica em direcção à opulência embriagante, não deixou de protestar contra a desigualdade de armas, mas lembrou que acaba sendo nossa a última escolha sobre como isso nos afectam o âmago do nosso cerne e o fôlego do nosso ser. Passar a vida a pensar no mal ainda provoca mais e crónicas doenças. E aí, com a nossa ajuda, a injustiça estará sendo elevada à segunda… senão mesmo à enésima potência. Maravilhoso. Enorme! Não é que ele insiste no optimismo, por cima dos seus quase 75 anos e depois de ter tido que recomeçar do zero pelo menos cinco vezes na vida? Há quem fale em teimosia positiva, eu talvez diga espírito de luta. GRANDE CIYAKA! Com as devidas adaptações, sinto estarem a tocar no cerne do meu âmago duas conhecidas passagens de músicas ancestrais umbundu: (i) “KULO KOFEKA YO KUYAKA KAYAKELA A TUNDE MO” (ii) “OKAMBO KETU KATITO… KATEKE TULISANUMÜLA TUTANDA KO”. Haja pois luta em forma de trabalho e agigantamento em forma de consolidação dos mecanismos de crescimento e justiça transversal. ANGOLA AVANTE… PÁTRIA UNIDA. ESTAMOS JUNTOS
Nguvulu Makatuka, in Onjango Cibernético, 2015. Editado e integrado em Outubro de 2016.

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Setembro, YOLELI

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Agosto despede-se enquanto Setembro espreita já adiante. É tímido, por isso esconde-se por trás de uma palmeira, que se mexe toda. Meio devido às côcegas involuntárias que lhe faz Setembro ao tentar usa-la como escudo, meio devido ao facto de mal conter a alegria pela chegada da época balnear – mui apreciada pelos axiluanda, entre originais e contra-feitos (tipo este tipo aqui). O novo mês faz um esforço sincero para se esconder, mas a palmeira não dá conta das suas medidas. Talvez uma mulemba fosse mais apropriada. Ademais, na mulemba caberia mais do que um mês. Caberiam todos eles, com a condição de se sentarem em círculo de mãos dadas, dizendo cada um o que é de sua justiça, enquanto os outros ouvem atenta e activamente, até que chegue a sua vez. Por mais que se tente esconder, Setembro é de tal sorte grande que já o podemos divisar. É o mês de heróis públicos e consolidados como MANGUXI, mas também é o mês de heróis privados e ainda com um longo caminho pela frente. Por exemplo, é o mês da WETU YOLELI. Sim. É a amiga do pai dela e a princesa do sorriso, mas também é uma heroína apesar de muito nova. Nasceu com sete meses e virou-se bem, com a graça de Deus. Parece estranho, mas por vezes nascer e sobreviver já é um feito heróico – sobretudo tendo em conta o que é relatado diariamente sobre as nossas (públicas) maternidades. Setembro é também o mês do WAMBU, cidade que precisa resgatar a essência da vida que já foi seu nome. Não gosto nem me identifico com o medo e a desconfiança que sinto ver no olhar dos seus munícipes. Paranóia de filho pródigo?… Para não ousar responder a isso, recorro rapidamente ao calendário para fazer uma cábula relativa aos amigos que nasceram em Setembro. Inexperiência de quem se tenta iniciar nessas práticas demasiado tarde, não consigo anotar nenhum deles. Para dizer a verdade, opto por não mencionar os seus nomes. Mas vejo que são uns quantos e são bons. Peço que aceitem o meu abraço silencioso e sincero. E saibam que é sinceridade é sem $. Para não alegarem que nada disse a propósito e em homenagem a Setembro, apesar do tanto acima-falado, cá vai uma (roubada algures) em jeito de boas vindas ao mês (também) dos heróis anónimo do dia-a-dia: ” DESCONHEÇO FACTO MAIS ENCORAJADOR QUE A HABILIDADE INQUESTIONÁVEL DO HOMEM PARA MELHORAR A SUA VIDA ATRAVÉS DO ESFORÇO CONSCIENTE” – Henry D. Thoreau
Nguvuku Makatuka 

(Originalmente publicado no Facebook aos 26 de Agosto de 2013).

 

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SOBRE A QUESTÃO DA EMIGRAÇÃO DE ÁFRICA PARA A EUROPA

Esta questão continua dura e dolorosamente actual

CONFLECTIR com Nguvulu Makatuka

. São daqueles textos cujas ideias são tão directas que vale a pena reflectir sobre ele, mesmo quando os recebemos por mai – sem a referência do autor. 

Esperará por acaso a Europa que depois de séculos a saquear a África despojando-a da sua cultura, dos seus recursos materiais e humanos, de injetá-la com a sua febre perniciosa de consumo, vai poder encarar o novo milênio como uma espécie de fortaleza artilhada e compacta em cujo interior todos são felizes enquanto que, no exterior, a fome e o desespero alastram?

No conto de Edgar Allan Poe ‘A máscara da morte vermelha’ simboliza-se a futilidade da intenção do príncipe de se fechar no seu palácio a dar festas até que a peste passe.

A morte acabou por entrar.

A Europa é rica graças, essencialmente, a tudo o que levou da África.

Por acaso esperais que os africanos famintos fiquem padecendo da miséria dos…

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A sua grande habilidade e capacidade vocal, associada a uma excepcional aptidão para executar instrumentos, dos clássicos aos étnicos, dão-lhe o estatuto de versátil. Sendo este um dos aspectos de Té Macedo que mais rapidamente salta à vista, não é o seu único ´traço distintivo. A artista corporiza ainda muito valor humano, tenacidade e uma simpatia de difícil mensurabilidade.

A encarnação das mil faces da música

Té Macedo

O facto de ser a única tocadora de marimba conhecida é um dos aspectos incontornavelmente referidos em artigos e publicações que falem sobre Té Macedo. Outro título a ela associado é o de “cantora lírica”. Porém, ao que tudo indica, nenhum destes qualificativos esgota o âmbito da componente artística de Benuina Maria da Rosa Macedo – como os pais acordaram chamar-lhe. Pelo que a realidade tem demonstrado, “cantora versátil” seria a designação que melhor faria jus às suas características.

Nascida num dia 05 de Junho, no Marçal, um bairro da periferia de Luanda. Quando tinha um ano (em 1971) a sua família trocou o Marçal pelo bairro da Terra Nova, onde passou a viver. O seu nome, Té, é um diminutivo de Teresa, que o pai quis atribuir à filha. Acabou levando o nome da avó materna, Benuina, mas continuou ser tratada pelo nome derivado de Teresa.

Menina assanhadinha, segundo conta, desde cedo tornou-se muito conhecida pelas redondesas da Terra Nova, desde às B’s C’s…. e zonas afins. O seu gosto pela música também revelou-se muito cedo, tendo passado a coordenar o grupo coral de crianças da Igreja Cristo Rei (ex-São Domingos) quando tinha apenas nove anos.

Orientada pelos pais, que facilmente se aperceberam do talento do seu rebento, aos cinco anos começou a estudar balett na Academia de Música de Luanda. De 1978 a 1988 estudou piano, tendo-se dedicado ainda ao estudo de guitarra e clarinete.

Té Macedo conta que, mesmo antes de ir para a escola de música, tocava piano, mas de ouvido. Quando ouvisse o pai tocar ou apreciasse os acordes de uma música, pouco tempo depois era capaz de tocá-la com uma perfeição que impressionava quem a ouvisse. Esta habilidade foi desenvolvida fundamentalmente em casa, com considerável ajuda de Eduardo Paim, tratado por Kambwengo no seio familiar. Este último na altura havia chegado do maqui e estava hospedado em casa da família Macedo.

“O Kambwengo era particularmente bom em captar melodias apenas de ouvido e eu também desenvolvi esta técnica”, disse. Té Macedo confessou, inclusive, que nos primeiros tempos do estudo de piano ela decorava as notas exemplificadas pela professora e fingia estar a ler a pauta… até que a professora descobriu que a sua pupila não estava a ler as notas, embora as reproduzisse com perfeição.

O seu namoro com a marimba também remota dos tempos da sua meninice. Sempre suplicou aos mestre da marimba que a ensinassem, mas eles alegavam que a marimba apenas podia ser tocada por homens, sob pena de quando crescer ter os seus seios caídos de modo irremediável. Passou a captar os sons e espiar as técnicas. Quando um dia foi surpreendida pelos mestres a tocar a marimba com uma habilidade insuspeita, os especialistas renderam-se e, excepcionalmente, ensinaram os segredos da marimba à Té.

“Sangue, suor e lágrimas”

O período da vida que se seguiu a 1988 é definido por Té Macedo como tendo sido de “sangue, suor e lágrimas”. Depois de dez anos de estudo na Academia de Música de Luanda, “beneficiou de uma bolsa da cooperação Portuguesa, tendo ingressado no Conservatório de Música de Lisboa aonde estudou piano e canto. Terminou o curso de canto com a classificação final de 18 valores.

Este percurso, que poderia ser reduzido a poucas linhas numa nota biográfica, foi marcado por muitas lutas e dificuldades, como fez questão de realçar. “Tinha apenas 17 anos e estava a viver distante dos pais pela primeira vez. Houve várias situações de racismo e discriminação que tornaram ainda mais difícil este período”.

Té Macedo conta que durante a sua formação era muitas vezes discriminada. “Diziam-me muitas vezes: sabes que estás a tirar lugar a um português? Porque não estás a estudar com uma bolsa do teu país?…”. A autora da obra “kibukidilu” assinalou que o racismo é muito frequente da música clássica.

Relata, por exemplo, que depois de terminar o curso concorreu na Ópera Nacional de São Carlos (Portugal), onde ficou em 2.º lugar, mesmo tendo tido um desempenho que muita gente considerou ter sido consideravelmente melhor que o da concorrente que ficou em primeiro lugar, que por sinal era de nacionalidade portuguesa. Também concorreu na Gulbenkian, onde ficou em 6.º lugar. Estas colocações não permitem obter um contrato por tempo indefinido, mas apenas um contrato por termo certo.

“Depois de tudo o que passei no conservatório, o meu maior sonho era voltar em grande para o mau país”. A cantora considera ter realizado este sonho, tendo em conta a aceitação e o reconhecimento que o seu trabalho tem merecido. O seu primeiro espectáculo em terras angolanas foi no Huambo, em Maio de 2001. Depois teve outras actuações, como em Dezembro do mesmo ano, no casamento da empresária Isabel dos Santos e no festival de música “Festidez”, onde o público confirmou as suas capacidades artísticas, de que se foi falando desde à sua apresentação no planalto central.

Admite que tem sido muito bem tratada pelo público, particularmente em Angola, independente mente das idades e estratos sociais. Em 2005 foi agraciada pelo Prémio Nacional de Cultura e Artes.

A sua versatilidade instrumental e vocal levaram-na à autoria do primeiro projecto Angolano Lírico de fusão. Té Macedo pegou em temas do cancioneiro nacional e deu-lhes uma roupagem erudita, casando a orquestra sinfónica com instrumentos tradicionais e vocalmente imprimindo-lhe uma forte componente lírica.

O projecto, que veio amadurecendo desde 1997, foi gravado em Cuba com a Sinfónica Nacional, e contou com a participação do renomeado cantor / autor Pablo Milanés e as primeiras figuras da ópera cubana.

Durante o tempo em que estudou em Portugal, para além de ter aprendido oito anos de música e quatro de canto, frequentou paralelamente o curso de direito (até 3.º ano) e outros cursos técnico-profissionais como: contabilidade, secretariado, animação sócio-cultural, teologia básica e informática. “Por um lado queria voltar ao país o mais preparada possível. Por outro, queria contrarias a ideia que muita gente tem, de que o artista não sabe fazer mais nada”.

Aconteceu comigo

Um dos momentos que a nossa convidada desta semana destacou como tendo sido particularmente marcante foi, durante a gravação do seu disco “kibukidilu”, ter tido a oportunidade de trabalhar com Pablo Milanês, um grande nome da música. Foi ainda mais emocionante saber que era a primeira vez em que aquele monstro da música grava numa língua que não o espanhol… e cantou em kimbundu no tema “Maria Kanfimba”.

Outro grande momento, conta, foi quando numa gala no Cine Tropical os técnicos se esqueceram de ligar o meu microfone. “Sem me aperceber deste pormenor, cantei normalmente com outros artistas que tinham os microfones activados, sem que a minha voz tivesse sido abafada pelos outros sons…. Foi emocionante”.

Té Macedo Responde

Que factos mais a marcaram?
O nascimento do meu primeiro filho e o lançamento do meu primeiro disco

O que significou para si o disco
Foi o culminar de um processo de amadurecimento pessoal e profissional. O facto de ter antes trabalhado com outros grupos, como os “Jovens do Hungo”, “Ngoma Makamba” e outros artistas, como é o caso do Bonga e do Valdemar Bastos, permitiu-me ganhar experiência e criar um cartão de visitas próprio

Dom e estudo, o que é mais importante?
Para mim o dom é mais preponderante do que o estudo da música

Que acções defenderia em prol da música nacional?
A criação de um conservatório que desperte o gosto pela música nacional de raiz e a execução de instrumentos nacionais; a criação de uma fundação que descubra e promova novos valores no domínio das artes bem como a urgente recolha, sistematização e formalização do cancioneiro angolano.

Por António Kassoma “NGUVULU MAKATUKA”
Texto publicado no “Caderno de Fim de Semana” do Jornal de Angola em 2012

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Sinto muito, MÃE ANGOLA. Peço que me perdoes por não ser o filho que merecias. Peço também desculpas pelos meus irmãos. Alguns deles nem se dão conta do mal que te fazemos. Outros sabem mas optam por fingir ou fugir. Há coisas que não estão ao nosso alcance melhorar, mas conversar abertamente sobre o assunto já é um começo. Não sei se é o melhor começo, mas algum começo anima-me mais do que o comum silêncio sobre o que te afasta do progresso.

Já fui um bebé que nasceu com prazo vencido e quase teve de ser arrancado do ventre materno para um cenário de incompreensível guerra entre pessoas que – afinal – queriam a mesma coisa. Já fui uma criancinha que via e percebia mais coisas do que os adultos desconfiavam.

Uma criancinha que lutava com a dificuldade de perceber por que razão os primeiros amigos da sua vida não tinham pais. Se eles tinham barrigas enormes, por que razão os ossos dos seus peitos pareciam desenhar os caminhos que seguiam para o Mundudu ou para kakoma? Era ainda mais difícil perceber por que razão as suas clavículas pareciam reservatórios para água, de tão fundas que estavam. Era uma criancinha não só expansiva, mas preocupada e em grande medida perturbada.

Hoje ainda sou essa criancinha cujos primeiros amigos eram, afinal, os meninos acolhidos pelos Assuntos Sociais depois de tudo terem perdido nas suas aldeias. Eles não tinham algo a que pudessem chamar casa ou lar. Muito menos poderiam falar em família. Apenas podiam contar com um equipamento social, que funcionavam ao lado da casa onde vivi os primeiros dias e anos, no Ukuma. Na casa que eles alguma vez tiveram apenas comunicavam em umbundu. O filho do professor de língua portuguesa (que também era delegado da educação no município) e da senhora enfermeira e professora de biologia pouco parecia ter a ver com aquelas crianças. Mas pode haver fronteiras entre crianças? Quem as estabelece?

Pois, já fui aquela criancinha que tentava aumentar o seu umbundu para melhor comunicar com aqueles seus amigos, e também com o Zimbabwe, amiguinho daqueles tempos iniciais cuja imagem o tempo tragou. Lembro apenas que vivia algures num dos bairros do Ukuma, do lado direito da estrada que dá para a Missão Evangélica Elende, onde continuava a viver a avó CIPEMBE.

Já fui um menino que deixou essa envolvente do início da infância para se refugiar no Wambu. Como os meus amigos, a guerra fez com que também deixasse a minha casa por causa da guerra. Felizmente conservei a família e pudemos refazer a vida num novo lugar. Essa criança viveu, cresceu e passou por muitas coisas que não cabem aqui nem agora. Nesse percurso aprendeu a amar a pátria e a lidar com toda a gente com a deferência imanente a essa qualidade de gente. Seres humanos vivos, únicos e irrepetíveis. Talvez nem aja com a deferência devida, mas há quem diga que a minha pessoa procura fazer isso na maior parte das situações.

Também já fui adolescente rebelde e irreverente, com cabelos compridos, calças largas a cobrir o magro corpo, com o caderno (único para o ano lectivo) enrolado e guardado sem particular cuidado no bolso de trás das calças jeans. “Por que razão teria mais do que um caderno se não tinha o hábito de tomar apontamentos?”.

Anos antes esse rapaz era até relativamente “certinho” na Escola Deolinda Rodrigues. Lá sim, era preciso ter os cadernos bem tratados e a pasta em ordem. Senão nem, à sala chegava-se sem levar uma peculiar reprimenda. No matutino, depois de cantar o hino, o professor fixe tratar-lhe-ia da saúde. Esse professor, cujo nome verdadeiro quase ninguém sabia, fazia o gesto associado essa expressão depois de enfiar umas valentes bofetadas aos alunos em jeito de repreensão pública. Era comum essas acções ocorrerem no matutino ou vespertino. Isso eram outros tempos em outra escola. O adolescente rebelde era aparentemente bem diferente daquele outro. Apenas tinha um qualquer caderno enrolado, do qual pouco ou nenhum uso fazia. O mais estranho é que o sujeito que nem apontamentos tomava, no fim da aula era interventivo e os professores pareciam gostar de conversar com ele. Não fazia apontamentos, mas prestava atenção às aulas. Além disso, sempre teve o hábito de ler os livros das classes mais avançadas durante os tempos livres. De resto, a opção de ouvir as aulas era mais prática à alternativa, num contexto em que mal havia carteiras ou algo equivalente. Havia alunos que tinham de se sentar à janela, e alguns que se encostavam à parede desde o lado de fora da sala, usando o parapeito para apoiar o caderno. Não faltavam colegas que tinham dificuldade em encarar com normalidade o adolescente rebelde, num ambiente em que a maioria parecia seguir uma disciplina quase militar. Com o tempo alguns aprenderam a não julgar o Boy apenas pela aparência de bailarino pop-rock, o que ele efectivamente era com os seus companheiros do grupo “Os Tártaros”.

A verdade é que as pessoas são normalmente mais do que os outros as julgam. O adolescente rebelde já tinha visto várias vezes os olhos da morte, mas tudo isso ajudou-o a seguir em frente e depois se tornar num pequeno jornalista e universitário irreverente. De algum modo ainda o sou o bebé, a criancinha, o adolescente e o universitário das linhas acima.

Mas o tempo passou e muita coisa mudou. Muitas vontades nobres e sonhos iluminados se vão agarrando teimosamente à minha alma, mas os olhos têm menos luz e os sorrisos têm uma estranha semelhança com esgares. Por que será? Por que será que um sujeito que se poderia considerar de classe média tem claros sinais de frustração? Sim, frustração! Talvez porque a vida o tenha ensinado a importância de ouvir. A importância de não julgar sem conhecer e olhar para o outro como igual. É difícil não acusar o toque da realidade chocante que vamos vivendo.

Como não se preocupar com omnipresente desordem e a competição cancerígena que leva as pessoas a fazer (quase) tudo em nome de mais uns cifrões? Outro dos sintomas a assinalar é a febre pelas conquistas pessoais, ao ponto de inviabilizar a prosperidade sustentável do colectivo. Esquecemos que e apenas ela (prosperidade colectiva) pode assegurar o futuro. Basta olhar para o trânsito em Luanda. Quando será que vamos perceber que a ordem precede o progresso e que este é impossível sem aquela? Quando será que as nossas autoridades vão perceber o enorme perigo decorrente da crescente tendência de ignorar ou contornar as regras? Por que razão temos todos tanta pressa? Para onde vamos com esta febre? Não será que o país está a correr tanto que eventualmente se terá esquecido da alma algures no caminho?

Ninguém vê isso? Falar sobre isso leva a que possamos ser considerados frustrados. Mas não é difícil imaginar que não me incomode muito ser visto como um “não alinhado”. Fui isso toda a vida e não pretendo prescindir da minha individualidade agora que os cabelos se me vão ficando brancos antes do tempo. Aliás, não acredito que alguém possa ver virtude em ser ou estar “alinhado” com a mbwanja. Pode ver e tirar vantagens, mas não ousaria alegar haver alguma virtude na desordem.

Hoje dizer que alguém é frustrado parece mau. Mas não é. Temos todos razões para estarmos frustrados. Talvez sejamos todos uns frustrados embora apenas alguns os admitam. Não se riam. Frustrem-se meus senhores! Mas tenham uma frustração controlada e motivante no sentido da acção esclarecida e construtiva no sentido de ultrapassar(mos) os factores que desencadeiam a frustração. Em termos psicológicos, a frustração é o estado mais ou menos acentuado de tensão ou inquietação psico-emocional decorrente de não conseguirmos realizar ou alcançar algo que seja relevante para nós. Ora, considerando este tímido enquadramento da frustração, em Angola não ser ou estar frustrado é que é anormal e talvez mesmo patológico. Só não se sente frustrado quem não se sente na obrigação de contribuir mais e melhor para que ao menos façam sentido os sacrifícios dos nossos ancestrais e dos heróis tombados nas nossas diferentes guerras. Nenhuma morte é justificada e jamais poderíamos justificar a ida deles, mas ao menos que os nossos mortos compreendam “porque partiram afinal”, para citar Teta Landu. Só não sente frustração quem não prestava atenção quando cantava o hino da sua organização cívica da infância, não conhece compromisso contido no hino do seu partido, acha que Angola Avante é apenas uma canção e não faz ideia do quanto custou a nossa bandeira.

Quem se dá ao trabalho de prestar atenção a esses elementos da nossa identidade individual e colectiva, rapidamente percebe que ainda estamos muito longe de ser o “homem novo crescido na pátria de Neto”. Quando éramos miúdos tínhamos imensas brincadeiras. Mas brincadeira tem hora, tem períodos da vida em que podemos e devemos dedicar algum tempo às brincadeiras e, sobretudo, nem todas as brincadeiras são de bom gosto. Algumas delas são mesmo inaceitáveis.

Vale perceber que as brincadeiras sempre devem estar ao serviço de um propósito positivo, normalmente de radical educativo. Não se pode dizer isso sobre muitas das actuais brincadeiras. Veja-se que quando se brincava ao “polícia e ladrão”, normalmente o polícia conseguia apanhar o ladrão e o prendia. Não pedia gasosa, nem sugeria que o saque fosse partilhado. Quando se brincava às casa, havia a tendência de imitar as práticas e obrigações que um dia teríamos nas nossas casas. Era ensaiar e antever coisas boas. O que dizer então do polícia que finge não ver a infracção do taxista porque este paga o seu complemento remuneratório ou entretanto o hiace é do chefe dele. O que dizer uma pessoa encarregue de administrar dado território e não consegue apresentar e executar um plano integrado e sustentável de transportes colectivos? Será porque o caos dos kandongueiros representam rendimentos para muitos dos que têm a obrigação de promover o seu desaparecimento mediante a eliminação das carências e desarticulações do transporte colectivo que ditaram o seu aparecimento? Essas são boas brincadeiras?

Será que é de bom gosto a brincadeira que se faz na recolha de lixo, quando o Estado até poderia ter custos próximos de zero se fizesse uma concessão de recolha de todo o lixo da urbe e o seu aproveitamento para gerar energias limpas por captura de metano nos aterros sanitários? Isso pode? São conhecidas várias propostas dessas, mas parece que a nossa malta que deveria encaminhar esses assuntos é a mesma que criou essas fracas e amadoras empresas de recolha de lixo que andam a sugar a massa do Estado sem cumprir as suas obrigações.

Será que podemos nos dar ao luxo de brincar de país? Se já fui todas as coisas que atrás disse; se me sinto frustrado por fazer parte de uma geração que tinha tudo para prestar um serviço à Nação digno dos sacrifícios consentidos pelos nossos kotas, cada dia que passo aumenta a minha frustração e angústia pelo risco de país nenhum deixar aos meus descendentes. Por mais exagerada que seja essa nota, julgo que a possibilidade de não termos um país para deixar aos nossos pode tornar-se real, caso não acordemos rapidamente e deixemos de lidar com os problemas (des)estrututantes que se agudizam. E não há como resolver problemas estruturais com base em jeitinhos, esquemas e cunhas. Essas técnicas ou tácticas (para quem preferir) é que nos levaram ao estado actual. Ou seja, levaram-nos à progressiva corrosão do Estado em alguns domínios, onde agora o caos é senhor e o individualismo capitalista é o príncipe. Não foi para isso que os mais velhos lutaram. E não podemos deleitar-nos com o rebuçado do adiamento ou sorver distraidamente o gelado do gradualismo. Há coisas que têm que ser feitas já, e de modo inequívoco. É que o não cumprimento das regras tende a tornar-se cultura. Isso é quase certo quando numa dada sociedade as pessoas violam sistematicamente as regras e, de bónus, gozam da complacência da impunidade. Quando algo se torna cultura(l) passa a ser o norma(l), desafiando o sentido do que deveria ser o direito vigente. Este caminho não é apenas perigoso. É jurídica, política, administrativa e socialmente cancerígeno.

Por favor, vamos despertar para a seriedade e gravidade do assunto. Não nos limitemos a olhar para os nossos pés precisamos olhar um pouco para cima e para os lados. Como de modo lapidar disse a Maria de Kamwanga, uma das maiores cronistas deste país, é importante lembrar que “ENTRE O NOSSO UMBIGO E O CÉU EXISTE A HUMANIDADE INTEIRA”. Entre as nossas pretensões pessoais e o sucesso existe o país inteiro, com as suas heranças e ónus em relação às gerações do passado e responsabilidades em relação às futuras gerações. ESTAMOS JUNTOS.

Sempre,

António Kassoma “NGUVULU MAKATUKA”

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A inocência das crianças e a indiferença das lideranças: nada justifica a morte

Julho termina. Agosto esfrega as mãos e tem dificuldades em controlar a saliva. O que será que conta fazer com as suas mãos este tal de Agosto? Derramar mais sangue de crianças apenas porque nasceram num contexto geográfico e político de guerra? Afinal nascer é mal-e-mau? Pode, pelo contrário, Agosto levantar as mãos num firme gesto de negação e término às inaceitáveis situações que foram ocorrendo nesta parte intermédia do MMXIV ano, em diferentes pontos do globo.

Será que, como Pilatos, Agosto vai simplesmente lavar as mãos perante a possibilidade de agir com justiça e responsabilização, optando antes por ignorar os aviões abatidos como se de tiro aos pratos estivéssemos a tratar. O que vai fazer em relação aos descendentes dos filisteus (agora chamados israelitas) que acham que as crianças da palestina são terroristas muito perigosos geneticamente programados para lançar rocket’s às suas crianças, pelo que devem preventivamente ser assassinadas como se de anátema se tratasse? Será que só as crianças dos judeus são paridas com dor e têm direito a um lugar sob este sol que nasce para todos? Que mundo estranho é este!

Claro que, na verdade, não é Julho nem Agosto quem age. O tempo e o espaço apenas são o palco deste desfile de insanidade colectiva, marcada por actos e decisões de pessoas que era suposto serem políticos e, como tal, necessariamente comprometidos com uma ética pro-vida e pro-dignidade. Mas não. Endireitam as gravatas e fazem pose perante as câmaras para reiterar a (i)racionalidade das suas decisões. Esses imperialistas do capitalismo-democrático que andam a dourar e impor ao mundo fazem inveja a Hitler, Musolini, Staline e outros tantos que agiram como se o Estado fosse mais importante que as pessoas. Os actos que eles julgam defensáveis fazem inveja à demência em si mesma, aos psicopatas mais assustadores e aos sociopatas mais abismantes.

Como não consigo falar com as importantes pessoas que têm praticado esses acto, talvez seja melhor falar mesmo com o mês, nem que corra o risco de ser tido por louco. Será que o mês me responde? Insisto: o que será que Agosto vai fazer com a saliva que vai brotando nas suas glândulas? Vai engolir milhões em guerra quando imensas multidões não têm a possibilidade de os dentes escovar pela simples razão de os não terem podido sujar há dias vários? Vai Agosto investir milhões em lipo-aspiração e futilidades como os BB, quando esses recursos deveriam servir para melhorar a educação alimentar preventiva, aumentar a produção de alimentos naturais e não transgénicos, bem como criar subvenção para livros? Estranha gente. Onde está a humanidade deles. O que é para eles a humanidade. Qual é para eles o fim (em si mesmo)? Por onde andam as referências éticas na política? Para onde vai a esperança olhar quando cinzento o espírito estiver e a alma recusar-se a ficar alva? Entretanto segue a gente nesta louca viagem, deixando o mundo mais indigente. Que estranho e demente está a ser o mundo corrente.

PRO PACE ET FRATERNITATE GENTIUM!…

Ao Dispor,

António Kassoma “NGUVULU MAKATUKA”

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